Imagem da Senhora de Antime Reprodução da separata da revista "Minia", 1994 Cultos e ocultos de Monte Longo por Miguel Monteiro |
FESTA
DA SENHORA DE ANTIME
«No
segundo domingo de Julho é a festa popular de Nossa Senhora de Antime.
Na
freguezia de Santa Maria d’Antime, a um quarto de legua para o sul de Fafe,
celebra-se a romaria d’esta Senhora, que é uma pedra tosca (granito metamorphico,
sem trabalho escultural, a não ser o rosto; o mais, pernas e braços são
postiços.) o seixo peza outo arrobas, e a charola da Senhora, ou andor tambem
outo arrobas. E levada em procissão a Fafe, pelas 10 horas da manhã, e regressa
para Antime pelas 3 horas da tarde. Eis algumas das cerimónias: “Chegava quasi
a delirio o afervorado das salvas da Companhia de mosqueteiros da procissão,
não só na sahida e na volta d’ella, mas sobretudo no accommetimento de um
Castello ficticio, de proposito erigido para dar mais realce á funcção e para a
tornar mais estrepitosa; o castello a final tomado era abrasado em chammas
pelos mesmos mosqueteiros, depois de fingido um apparatoso conflito de
sitiantes e sitiados e vencido a final o Rei Mouro acastellado.
«No
meio de folias e extravagancias da romaria, tem ficado algumas vezes esmagados
alguns dos conductores da Charola da Senhora, os valentões da procissão,
valentões que se offerecem com antecipação de um ou dois annos às vezes, e que
não conseguem esta graça especial dos mezarios da Senhora senão a poder de
supplicas, empenhos e solicitações. Não é todavia a mera ostentação de forças e
robustez de corpo o que assim faz deprecar a graça de carregar com os banzos da
charola aos ombros: é especialmente porque tém para si os mancebos da
localidade (Fafe e Antime) não serem bem succedidos nos seus cazamentos, se não
pegarem primeiro ao andor da Senhora. N’esta occasião, para elles da maior
expanção de coração juvenil, costumam collocar esses mancebos dos banzos os seus
ramos de perpetuas na charola, aos quaes se dá o nome sacramental de pinhas da
Senhora de Antime»
Chama-se
a esta romaria da Senhora do Sol; e quando pedem chuva é a ella que se dirigem,
o que condiz com a crença de “revolver penedos” e liga este culto ao das
Deusas-meretrizes dos charcos: «Em tempos de grandes secas, e quando as cearas
pedem agua, recorrem os habitantes de Foscôa por meio de preces á Virgem Nossa
Senhora; juntam-se nove donzellas, que é essencial que se chamem Marias,
(convocadas de ordinario por alguns Manoeis) vão em procissão a distancia de
meio quarto de legua, a um sitio chamado Lameira de Azinhate, e alli voltam de
baixo para cima uma grade pia de pedra que pezará trinta arrobas, senão mais,
regressando depois para casa á espera da chuva.»
In:
Braga, Theophilo, “O Povo Portuguez nos seus Costumes, Crenças e Tradições,
Vol, II, Lisboa, Livraria Ferreira – Editora, 1885, p.311, 312
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